domingo, 27 de agosto de 2017

Cantiga de ninar

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Palavras, de Sylvia Plath

Palavras

*Aço
Contra o tronco que retine,
E os ecos!
Ecos a galope
Desde o centro como corcéis.

A seiva
Nasce qual lágrimas, qual
Água tentando
Restaurar seu espelho
Sobre a rocha

Que tomba e rola,
Um crânio alvo,
Devorado pelas ervas.
Eras mais tarde eu
Dou com elas no caminho-

Palavras áridas, sem rédeas,
O infatigável tropel.
Nisso
Das entranhas do poço, estrelas fixas

Governam uma vida.


WORDS
Axes
After whose stroke the wood rings,
And the echos!
Echos traveling
Off from the center like horses.
The sap
Wells like tears, like the
Water striving
To re-establish its mirror
Over the rock
That drops and turns,
A white skull,
Eaten by weedy greens.
Years later I
Encounter them on the road —
Words dry and riderless,
The indefatigable hoof-taps.
While
From the bottom of the pool, fixed stars
Govern a life.

*Axe: machado, trocado por Aço.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Vou me embora pra Pasárgada


Somos feitos de ilusão e esperança

A briga de foice no escuro. A falta de sentido da vida. A morte: ponto final, definitivo, irrevogável. E a ilusão, a grande ilusão que nos move, nos alimenta, que produz cultura e civilização.
Como escreveu Shakespeare "A vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e de fúria, sem sentido algum."
Para sobreviver, apenas sobreviver, não precisaríamos de nada disso. Animais em meio a outros animais, sobreviveríamos, com as dificuldades, perdas e ganhos, de qualquer animal. Mas sabemos que não é possível voltar atrás. Não há caminho de volta. Mas seria possível parar e repensar nossa história. Nem é preciso ir muito longe: temos exemplos suficientes em tempos próximos: a Palestina, a Síria, o nazismo, a escravidão; agrotóxicos, poluição, desigualdade, miséria... Tudo em que estamos envolvidos nos leva para o abismo. No entanto, mantemos nossa pose e nossas posses e nosso poder. Não abrimos mão de nada, e o mundo que se....
A esperança nos arrasta até o derradeiro momento, ralando nossos corpos e mentes nas arestas do mundo, mas nos garantindo que chegaremos lá... Lá! Onde mesmo? Não se sabe, e isso pouco importa, o importante é a ilusão de chegaremos em algum lugar: Paraíso, Xangrilá, Céu. Ou algo mais terreno: sucesso, poder.
Esperança de quê?
De uma sobrevida além da vida? O que daria algum sentido à única vida que sempre teremos, dela fazendo uma espécie de pré-vida, sendo a vida após a morte a verdadeira vida: eterna e prazerosa. Sem sentido ou com sentido, essa é a única vida que temos e esse é o único planeta que temos. Do jeito que as coisas andam, não teremos tempo de encontrar, nos confins do universo, um lugar para nos abrigar (E se conseguirmos, quem serão os escolhidos?).
Ah, ilusão, conseguiríamos viver sem ela, sendo dotados de razão? Razão que, se nos deu alguma vantagem evolutiva inicial, nos passou uma rasteira, nos chantageou, e nos deu seu contrário a fim de suportarmos a vida, já que a razão não seria suficiente para garantir que caminhássemos ao longo dos milênios, furiosos, ferozes, mesquinhos, hipócritas, cheios de si, arrogantes e gananciosos.
Ah, é o que temos: ilusão, ilusão e esperança.

E o coveiro faz mais um buraco no chão para tapar nossas bocas.